HUNTING GROUNDS: LAS VEGAS

SEJAM BEM VINDOS AO NOSSO TERRITÓRIO, A CIDADE DO PECADO, LAS VEGAS!

LOBISOMEM: OS DESTITUÍDOS

O LOBO DEVE CAÇAR... TUDO QUE VOCÊ PRECISA SABER PARA COMEÇAR SUA CAMPANHA.

CAPITULO 1: ANSWERS AND CHOICES

ACOMPANHE A TRAGETÓRIA DE ORIGEM DE UMA DAS MAIORES ALCATEIAS DE VEGAS.

PRÓLOGO: ONCE UPON A TIME IN NEW MEXICO!

O PASSADO, O LADO HUMANO, A VIDA ANTES DA PRIMEIRA TRANSFORMAÇÃO!

THE STORMRIDERS: OS CAVALEIROS DA TEMPESTADE

STEVE, KLAUS, RAY, MIKE, CARMEM, PHANTOM, CONHEÇA OS INTEGRANTES DE NOSSA ALCATÉIA.

13.2.07

Prólogo - Parte 06

Once Upon a Time in New Mexico 06/10




A velha mexicana ainda tentava entender o motivo do jovem Steve ter saído tão abruptamente de seu estabelecimento, mesmo depois dela ter despendido tanta atenção a ele. Por um instante achou ter dito algo que poderia tê-lo ofendido ou irritado, mais o que poderia ter sido?

Seus pensamentos estavam distantes, tentavam achar uma razão para aquela atitude, ate que ao passar despretensiosamente seus olhos pelo salão, percebeu os primeiros sinais de problemas a sua volta.

No palco, o vocalista da banda contratada parecia de longe não estar nos seus melhores dias, a impressão que se tinha, era que estava completamente drogado. Havia uma mistura de pavor e descrença nos olhos do rapaz, como se estivesse tendo uma alucinação. “Mama” imediatamente pensou em fazer algo, estava preocupada não só com a saúde do rapaz, mas com a integridade de seu patrimônio. Ela sabia muito bem do que clientes bêbados e insatisfeitos eram capazes, então mais do que depressa, levantou-se decidida a interromper a apresentação.

Mas infelizmente tudo aconteceu muito rápido.

Quase que em câmera lenta, ela observou os movimentos do cantor tornarem-se desequilibrados, suas pernas pareciam não o obedecer mais, até que escorado no suporte do microfone, regurgitou na platéia.

Foi o suficiente para transformar aquele salão num verdadeiro campo de guerra. Em questão de segundos, a confusão tinha tomado proporções catastróficas. Mesas e cadeiras de mais de cinqüenta anos, conservadas por ela como relíquias, transformavam-se em armas nas mãos de homens e mulheres mais exaltados. Copos, garrafas e vidraças, estraçalhavam-se em todas as direções e aos poucos, o desespero passou a dominar Constancia. Tudo que lhe havia restado de valor nesta vida, estava dentro daquele bar. Suas recordações, seu passado, sua historia. Tudo estava sendo destruído diante dos seus olhos.

Sem controlar as lágrimas e com um imenso nó na garganta, ela partiu disposta a acabar de uma vez por todas com aquela situação. Correu o máximo que pode na direção do balcão, tentando alcançar desesperadamente a espingarda na parede. A distância de pouco mais de quatro metros que a separava da arma, pareceram mais de quarenta quilômetros, enquanto ela se esquivava dos focos de briga em seu caminho e dos escombros que cruzavam pelo salão. Ao se aproximar, mais do que depressa, passou por debaixo do biombo, e seguiu direto pelo estreito corredor, até chegar debaixo do exato lugar onde a espingarda estava. Ou melhor, deveria estar. Sem acreditar nos seus olhos, ela observava a parede vazia, apenas com o suporte onde a arma repousava. Seu coração bateu mais forte, por alguns instantes faltou-lhe o ar. Com uma mão sobre seu peito e a outra apoiada no balcão, ela tentou não deixar a situação dominá-la. Respirou fundo algumas vezes, tentando espantar o pânico e passou a procurar o destino de seu rifle de caça.

Violência, sangue e destruição. Era tudo o que ela via por onde quer que passasse os olhos. Embora o tumulto fosse grande, não demorou para que ela o encontrasse. Avistou a poucos metros dela, também do lado de dentro do balcão. Estava em posse de um jovem muito alto, branco, com os cabelos castanhos e arrepiados. O destino da bala parecia certo, a cabeça do vocalista da banda. Antes que o pior acontecesse e sem pensar nas conseqüências, Constancia se atirou contra o jovem, quando este engatilhou a espingarda e fez menção em apertar o gatilho.

O estrondo do tiro soou como um toque de recolher. Tomadas pelo pânico, dezenas de pessoas correram em direção a saída. Rapidamente uma multidão se formou em torno da porta, onde todos digladiavam entre si buscando passar para o lado de fora o mais rápido o quanto fosse possível. Ninguém parou para observar de quem veio ou para onde foi o disparo. O instinto de sobrevivência falou mais alto e no ápice do desespero, janelas eram destruídas e usadas como rota de fuga para os mais apavorados.

O jovem atirador irritou-se por ter sido interrompido pela velha, que com todas as forças ainda lutava para tirar a arma de suas mãos. Sem o mínimo de piedade, ele acertou uma violenta cabeçada no rosto de Constancia, que instantaneamente amoleceu e apenas viu o cabo da espingarda vindo em direção a sua cabeça antes de tudo escurecer...

Novamente ele empulhou a arma apontando na direção de Klaus, que assustado - e aparentemente alheio a tudo que acontecia a sua volta - se arrastava tentando se esconder atrás do pano preto improvisado no palco, onde ele tinha começado sua apresentação. Com o vocalista na mira e indefeso, ele somente exitou apertar o gatilho, quando viu mais três de seus amigos se aproximando do cantor. Munidos de garrafas e pedaços de madeira, eles finalmente tinham se desvencilhado da multidão, para “dar aquele maldito drogado europeu o que ele merecia”. Eram quatro contra um. A situação parecia obvia.

Klaus estava ferrado...

Mas nenhum de seus algozes contava com o rapaz alto, de traços latinos, que havia permanecido mesmo quando a lógica sugeria uma atitude menos heróica em prol de sua própria segurança. Ele presenciou toda brutalidade e falta de respeito para com a dona do bar. Embora ele a conhecesse há poucos minutos, ela havia deixado bem claro o que aquele estabelecimento significava em sua vida. Não foram muitas as palavras, mais foram suficientes para que ele pudesse perceber, que o que estava sendo destruído e espalhado pelo chão, era muito mais do que madeira ou vidro, eram vestígios de uma vida inteira...

Preciosas lembranças...

Sem elas perdemos nosso rumo, nos esquecemos
quem realmente somos e de onde viemos .Assim como a velha senhora e seu "saloon", as lembranças eram as únicas coisas que ainda restavam na vida de Steve. Eram elas que o definiam como pessoa e mantinham suas forças para continar em frente.

Assistir uma mulher tão boa como Constancia perder tudo isso de uma forma tão brutal e inconseqüente, fez com que uma enorme chama se acendesse em seu peito. Ela rapidamente se alastrou e passou a queimar e arder cada vez mais forte clamando por justiça. Para o azar do rapaz armado e seus companheiros, Steve estava ali e estava furioso...

Ele lutou bravamente contra a nuvem rubra de fúria que tentou cobrir seus sentidos, resistiu como um herói contra a compulsão selvagem de retribuir em dobro toda crueldade despendida contra aquela senhora indefesa. Ele até hoje não sabe muito bem o que realmente aconteceu da primeira vez em que se deixou levar por seja lá o que fosse esse “impulso”, mas ele ainda carrega dentro de si a dor das conseqüências daquele dia.

Mas hoje era diferente, essa “força” era necessária e ele mais do que em qualquer outra situação "a desejava".

Naquele noite, sua maldição se tornaria seu poder. Ele não poderia ficar passivo diante daquela situação. Algo dentro dele o impelia a fazer o que era certo, mas ao mesmo tempo, ele não desejava perder o controle novamente. Consciente disso, concentrou-se tentando evitar que a raiva atrapalhasse seu raciocínio. Permitiu que aquela chama que ardia em seu peito, se alastrasse por cada parte do seu ser. Então subitamente, suas roupas passaram a ficar apertadas em seu corpo a medida em que ele começou a crescer. Seus músculos tornaram-se rígidos e definidos, seus braços estavam cobertos por longos e esparsos pelos negross e seus olhos agora tinham um tom azul muito claro, próximo ao branco. Sem sombra de duvida, eles eram a parte mais assustadora da expressão bestial que ele acabara de assumir, com caninos afiados e leves traços lupinos...

Por alguns instantes, ele estudou seu alvo e antes que ele pudesse ser percebido, saltou surpreendentemente por cima do balcão e aterrissou fincando o que pareciam ser mais garras do que unhas, na nuca do jovem armado. Foi um golpe de sorte certeiro. Pego de surpresa, o atirador deixou que a arma caísse de suas mãos e em segundos, passou de caçador para caça.

Estava completamente imobilizado, de bruços e a mercê de Steve, que o mantinha preso com os joelhos firmes em suas costas e pressionando seu rosto contra o chão. Ele pode ver os primeiros fios de sangue brotando e começando a escorrer pelo pescoço do rapaz, devido a força com que cravou suas garras na carne dele. Seu coração estava acelerado, suas veias latejavam de excitação ao sentir sua presa tão próxima, dominada e exalando o inconfundível aroma que o medo produz. Steve observou por alguns instantes o desespero do rapaz, que se debatia tentando alcançar a espingarda com uma das mãos. Então com o mesmo requinte de crueldade que ele viu Constancia ser atingida, ele retribuiu ao seu agressor. Sem ter uma noção exata de sua força, Steve largou o pescoço e segurou firme em um tufo de cabelo de sua vitima e mesmo não sendo sua intenção, suas unhas chegaram a perfurar o couro cabeludo do rapaz.

O jovem imobilizado, pensou em gritar, pedir ajuda, mais seu orgulho não permitiu, achou realmente que daria conta do recado. Estava apenas ganhando tempo até alcançar a arma - “Esse cara não sabe com quem esta se metendo” – Repetia para si mesmo. De tanto tatear, realmente ele chegou a tocar com um dos dedos na espingarda, mais no exato momento em que sentiu o frio do aço, foi erguido pelos próprios cabelos e em seguida teve seu rosto lançado violentamente contra o piso. Uma, duas, três vezes. Sua consciência aos poucos foi se esvaindo, mas antes que perdesse completamente os sentidos, sentiu seu corpo sendo virado e enfim pode olhar nos olhos de seu oponente. Sua expressão imediatamente refletiu seu espanto. Ele era enorme, tinha traços caninos e terríveis olhos azuis, claros e frios como o gelo. Pensou estar louco, mais era exatamente isso que estava diante de seus olhos. Um desespero primordial e inexplicável passou a tomar conta de sua mente.

Sem ao menos ter tempo para que pudesse colocar em ordem seus pensamentos, “a criatura” agarrou-o como se fosse feito de papel pelo pescoço e com sua mão esquerda, ergueu-o acima da altura da cabeça com uma força sobrenatural. Assustado e sem forças para reagir, pode apenas observar de forma passiva ele lentamente erguer para trás o braço direito com o punho cerrado, ameaçando desferir o soco que certamente terminaria o confronto. Mas antes de nocauteá-lo, ele olhou em seus olhos de uma forma que congelou sua espinha e vociferou em um tom grave, quase que inumano – "Isso é pela velha" – Apenas o medo que sentiu naquele momento o teria feito perder a consciência, mas para sua infelicidade isso não aconteceu. A última coisa que viu, foi a mão da fera, erguida e fechada de forma firme, vindo em direção de seu rosto estraçalhando seus dentes. Steve esperou pacientemente até que os olhos de seu inimigo se fechassem, para só então lançá-lo como um saco de estrume no chão.

Agora só faltavam três...

Pisando sobre o corpo do atirador completamente inconsciente, ele caminhou em direção ao balcão e usando apenas uma das mãos, pulou para o outro lado. O pequeno ruído de vidro se estilhaçando na sola de seu coturno era só um aviso para os outros, que ele estava chegando para terminar de uma vez por todas aquilo que havia começado...

9.2.07

Prólogo - Parte 05

Once Upon a Time in New Mexico 05/10




Desde os seus quinze anos, quando penhorou o forno de microondas de sua avó para comprar sua primeira guitarra elétrica, Klaus
Øllendorf persegue o sucesso.

Ele soube o que queria ser pelo resto de sua vida após ouvir "The Number of The Beast", interpretada pelo então estreante Bruce Dickinson, enquanto passava em frente a uma loja de discos que ficava a quarteirões de sua casa. Foi paixão a primeira distorção. Na semana seguinte em que se recuperou da surra que levou de seu pai pela penhora, ele se juntou com amigos que como ele curtiam Iron Maiden, AC/DC, Black Sabbath, Judas Priest, entre vários outros ícones do heavy metal e formou sua primeira banda, o Mjolnir. Passaram-se longos oito anos desse dia até hoje, mais ele continua sendo o mesmo jovem rebelde e irresponsável. Apaixonado pelo som pesado, repleto de virtuosos solos de guitarra e letras inspiradas nos velhos contos “asgardianos” contados pelo seu avô durante sua infância.

Tocar fora da Noruega, sua terra natal, era não só para ele, mais como para todos de sua banda, a realização de um sonho. Finalmente estar ali, no berço do rock, dando o primeiro passo “rumo ao sucesso”, era o ápice de suas vidas e isso deveria ser comemorado. E foi, durante os últimos dez dias, todos eles regados a muita vodka, sexo, drogas e é claro, rock in roll. Quando perceberam que todas suas economias haviam desaparecido em pouco menos de duas semanas e só lhes restava o carro, o trailer onde dormiam e seus instrumentos. Klaus e seus amigos trataram de arrumar um lugar para tocar. Foi assim que eles chegaram ao El Rancho.

A casa estava ficando cheia. Eric, Harald e Svein cuidavam do som, enquanto Øllendorf se concentrava em seu ritual particular antes da apresentação. Normalmente além de exercícios específicos para suas cordas vocais ele sempre costumava tomar duas doses de vodka para “aquecê-las”. Hoje não poderia ser diferente, mas como tratava-se de uma noite de "estréia", Klaus tomou três só para garantir.

A medida em que o tempo foi passando, sua ansiedade também aumentava. Para piorar, alguma coisa parecia não estar dando certo com a parte elétrica na instalação dos instrumentos. Seus três amigos iam e vinham pelo salão, que cada vez mais estava ocupado por pessoas que aguardavam pelo inicio do show, com metros e mais metros de fios enrolados nos ombros, discutindo sobre tomadas, voltagens e extensões. Para aliviar a tensão, Klaus tomou algumas “margueritas” – contem duas ou três - e experimentou algumas doses da famosa tequila mexicana da “Mama Constancia”. Seis para ser exato.

“Dádiva dos deuses”, ele dizia - Sempre funcionava. Não demorou para que a mistura fizesse efeito. Logo se sentiu mais leve, solto e desinibido. Desceu do palco, conversou com o publico, riu, flertou e bebeu mais um pouco de cerveja.

“Pouco” é uma mera forma de expressão irônica...

Quando enfim tudo estava pronto e todos da banda demonstravam estar a postos, Klaus despediu-se de suas “novas amigas” e subiu cambaleante no palco. Concentrou-se apenas em ficar de pé por de trás do pano preto improvisado. Seus amigos de imediato perceberam o estado do vocalista e ao verem a multidão já impaciente, entraram numa onda conjunta de desespero. Afinal, eles precisavam muito daquele dinheiro. Svein mais do que depressa, se levantou da bateria e correu até uma das atendentes do bar implorando por um copo de “açúcar com um pouco de água”, torcendo com todas as forças para que a glicose cortasse um pouco o efeito do álcool. Harald foi para traz do pano e não pensou duas vezes quando derrubou sobre ele um balde de água e gelo. A todo momento ele o esbofeteava para que ele não caísse no sono. Eric parecia um corredor olímpico quando foi e voltou ao trailer para pegar outro molho de roupas para trocá-lo. Sem nem mesmo olhar para Klaus e Harald, ele jogou a trouxa de roupa na mão do baixista e imediatamente foi para frente do palco. As luzes se apagaram e o globo de prisma se acendeu. De improviso, começou um solo de guitarra para entreter o público e ganhar um pouco mais de tempo. Alguns minutos depois, Svein e Harald seguiram para seus postos, após se certificarem que o cantor dava sinais de melhora.

Quando o baixo e a bateria entraram na melodia frenética da guitarra, o vapor de gelo seco subiu e enfim chegava a hora da deixa na musica para que Klaus entrasse, todos fecharam os olhos pedindo para tudo o que fosse mais sagrado, para que o vocalista fizesse sua parte. Então com um belo gutural ele levantou a platéia e fez com que seus companheiros enfim respirassem aliviados. O álcool pareceu não afetá-lo de inicio. Tudo saiu perfeito durante a interpretação de “Welcome to the Raganarok”, e nas duas músicas seguintes. Mas na canção numero quatro, “In The Claws of Fenrir”, Klaus deu os primeiros sinais de não estar passando bem. Seus olhos pareciam estar sem foco, seus movimentos começaram a se tornar mais lentos e sua voz na melodia tornou-se descompassada. Eric, experiente e habilidoso, colocou a guitarra em evidencia com mais um solo destruidor e o publico nem sequer percebeu a recaída do vocalista, pelo contrario, urravam e pulavam como nunca no salão. Svein sem perder o ritmo, observava impotente seu companheiro esfregando insistentemente as mãos nos olhos como se quisesse apagar a força alguma imagem gravada em sua retina. Parecia assustado, olhava para tudo a sua volta desordenadamente como se estivesse cercado de perigo.

Definitivamente havia algo de muito errado com ele...

E por mais que todos da banda alimentassem a esperança de que fosse apenas um mal estar passageiro, a tragédia anunciada não demorou para se concretizar. Øllendorf foi subitamente tomado por uma forte sensação de vertigem, seguida de enjôo e dor intensa na região do abdômen. Cambaleou para a beira do palco com uma das mãos na cabeça e a outra se escorando no suporte do microfone, pedindo para que aquela sensação fosse embora logo. Tudo em sua volta parecia estar girando como um carrosel macabro, a dor era intensa. Sem forças para se conter, ele apenas sentiu o liquido quente queimando sua garganta a cima, terminando por regurgitar sobre uma telespectadora próxima a ele. Imediatamente um rapaz que parecia ser o namorado dela, agarrou firme nos seus tornozelos e o puxou, fazendo-o cair violentamente no chão. Com o tripé ainda firme em sua mão, Klaus afundou com toda sua força a base do suporte de metal na cara do seu agressor. O microfone voou e caiu próximo a caixa de som fazendo que uma microfonia aguda e intensa tomasse conta do recinto. Inerte no chão, o rapaz sangrava muito, parecia estar completamente desacordado, enquanto a garota toda suja, gritava a plenos pulmões para que ajudassem o seu namorado. O vocalista ainda zonzo, tentava se levantar, enquanto seus companheiros de banda já prevendo o pior, tratavam de pegar o que podiam entre seus instrumentos e acessórios de valor para sair logo dali. Os amigos do jovem que estavam longe do palco, quando perceberam o que a havia acontecido, correram como uma manada de búfalos em direção a banda. No meio do caminho, esbarraram em um motoqueiro bêbado que não gostou nada do choque, um caminhoneiro também não muito sóbrio tomou as dores. Uma confusão de proporções gigantescas deu-se inicio.


7.2.07

Prólogo - Parte 04

Once Upon a Time in New Mexico 04/10




Mesmo sem o rapaz aparentemente demonstrar muito interesse, Constancia se pós a falar. “Steve” foi obrigado a ouvir contos que remontavam o passado distante da família Cortez, desde o velho Hernan, o patriarca da família, que a dezenas de anos atrás partia da “Ciudad de Obregon” em uma jornada em busca de sucesso e realização rumo a América Norte, passando pela construção do El Rancho, até a triste e derradeira história da perda de seu marido e filho. Ao terminar seu relato, o semblante do rapaz encontrava-se perdido e distante, assim como seus pensamentos.

Desencadeadas pelas palavras da velha senhora, mil imagens atravessaram a mente de “Steve”. Mais uma vez ele presenciou um turbilhão de acontecimentos que pertenciam a um passado não muito distante, o qual ele exalstivamente tentava esquecer. Visões estas que o atormentavam todas as noites ao se deitar. Lembranças que o impeliam a partir a cada manhã para cada vez mais longe de pessoas que ele amava, de pessoas que faziam parte de sua vida e lhe faziam bem, longe de pessoas boas como Constancia. Uma fusão de sentimentos distintos como amor, saudade, culpa, raiva e arrependimento invadiram seu ser, mas antes que estes o dominassem ele os conteve. Então tão rápido quanto entrou neste universo de recordações, “Steve” despertou. Imediatamente se levantou olhando através da vidraça, como se estivesse procurando por alguém lá fora. Passou a mão sobre a alça de sua mochila e colocou-a sobre seu ombro esquerdo – “Obrigado pela hospitalidade” - disse o garoto olhando friamente para ela. Sem dar vazão a qualquer questionamento da senhora, virou-se seguindo em direção a saída. Constancia ficou atônita, sem entender absolutamente nada enquanto o viu passar pela porta.

Ao sair do estabelecimento, a brisa da noite lhe trouxe um aroma familiar, mas de certa forma desconhecido. Um arrepio gelado percorreu toda a extensão de sua espinha. Atento, olhou ao seu redor, em meio a escuridão da estrada. Até onde seus olhos alcançavam, nada se movia. Mas uma vez tudo estava quieto. Quieto demais. E ele mais do que ninguém sabia que isso não era nada bom. Parado em frente a porta, cada vez mais forte ele sentia uma sensação claustrofóbica o envolvendo, como se estivesse sendo cercado. Era como se a própria escuridão o abraçasse. Por instinto, deu um passo para trás e tocou a maçaneta da porta. Sem tirar os olhos da estrada, voltou para dentro do “saloon”.

Foi quando um agudíssimo e dolorido som estridente ecoou pelo bar. “Steve”, assim como todos ali dentro, levou imediatamente as mãos sobre os ouvidos, mas o timbre era tão alto, que seus tímpanos estavam o ponto de explodir. Os segundos que se passaram pareceram uma eternidade pela intensidade e dor causadas pelo barulho.

Ainda desnorteado, o rapaz tentou se recompor o mais rápido que pode. Seus ouvidos ainda zumbiam quando em fim seus sentidos entraram em sintonia, a visão era de selvageria generalizada. Um verdadeiro campo de guerra estava formado, onde motoqueiros e caminhoneiros se degladiavam ferozmente, distribuindo socos e pontapés em quem aparecesse pela frente. Confuso, “Steve” levou alguns segundos para assimilar o que “raios” havia acontecido ali.
Haviam copos e garrafas cruzando o salão, cadeiras e mesas sendo usadas como armas. O caos estava completamente formado e as coisas pareciam que não poderiam ficar piores...

Até que se ouviu um tiro...

Prólogo - Parte 03

Once Upon a Time in New Mexico 03/10




A fim de desmistificar suas suspeitas, Constancia foi direto ao ponto. "O que faz tão longe de casa, estranho? - Indagou ela num castelhano perfeito -” E por quê você quer saber?”- respondeu o garoto na mesma língua, sem nem mesmo levantar os olhos”.

Ela não conteve um leve sorriso. Sem querer ele havia dado mais uma pista, seu espanhol tinha um levíssimo sotaque e somente um país sul-americano não tem essa como sua língua corrente. Certa de suas conclusões, ela então respondeu - "Eu sou muito curiosa. E também gosto de conversar com brasileiros"- O rapaz grunhiu com indiferença e olhando com descaso irônico disse. "Lá de fora pensei que isso fosse um bar, não uma tenda cigana” Desta vez Constância gargalhou de verdade, ela adorava estar certa. Ela nunca errava. Talvez essa fosse a coisa que seu falecido marido Ruben mais odiava nela. Como se já não bastasse ser esperta ela tinha que ser exibida? Era o que ele sempre dizia...

Aos poucos ela se recompôs, sem ainda saber porque, ela havia simpatizado com o rapaz. Talvez porque inconscientemente esse jeito fechado, rebelde, mas ao mesmo tempo "levemente inseguro" lembrasse muito seu finado filho. Ela fez um sinal para que uma de suas garçonetes trouxesse algo para beber e voltou a papear com o garoto, mas ele parecia sempre estar na defensiva, tenso e desconfortável, talvez pelo fato dela saber sua origem.

Sem um pingo de timidez, a velha senhora tratou de quebrar rapidamente o clima desconfortavél com seu indiscutível carisma e jogo de cintura – “Desculpe, onde estão meus modos, eu me chamo Constancia Cortez, mas os pessoal aqui do El Rancho costuma me chamar de ”Mama” – era impossível não gostar da velha mexicana quando ela se dispunha a ser simpática, mas de alguma forma ele insistia em manter a conversa em um tom menos pessoal – “Steve” – ele respondeu estendendo a mão para um comprimento, ao mesmo tempo em que a garçonete colocava sobre a mesa uma imensa e cristalina caneca de cerveja, transpirando de tão gelada, coberta uma deliciosa espuma cremosa que ia além da borda. Depois de horas caminhando sob o sol quente, “Steve” olhou para aquilo como se fosse um verdadeiro oásis perdido – “Essa é por conta da casa. Claro, se realmente tiver idade pra beber isso “ disse a velha senhora. Sem pensar duas vezes o jovem tomou a caneca com a mão direita e virou lentamente o seu conteúdo refrescante aproveitando cada gole como se fosse o último.

Mama tinha certeza que aquele não era o seu verdadeiro nome, mas resolveu entrar no jogo para ver se ganhava um pouco mais de sua confiança e quem sabe assim, descobrisse mais alguma coisa sobre ele. Ela sabia o quanto era difícil recomeçar uma nova vida num pais que costuma desprezar latino-americanos, ela viveu isso e sempre se dispos a ajudar aqueles que como ela, um dia sonhou em vencer na América, mas ela precisava se assegurar de que estaria ajudando realmente uma boa pessoa...

Enquanto isso, ao fundo sobre o palco, os primeiros solos de guitarra já podiam ser ouvidos. As luzes foram se apagando enquanto um globo de prisma foi aceso. A platéia já impaciente urrou forte com o inicio do show. Palmas, assovios e gritos arrepiaram todos os integrantes da modesta banda. O baixo e a bateria entram na melodia poderosa do heavy metal, regido pela magia da guitarra, enquanto um pouco de água quente em um balde de gelo seco torna-se o ingrediente final para entrada de Klaus
Øllendorf, o vocalisa da banda convidada dessa noite, o Valhalla. Por detrás de uma cortina preta improvisada, um grito gutural com um forte sotaque escandinavo diz

– “Greetings América, Welcome to the Ragnarok”

6.2.07

Prólogo - Parte 02

Once Upon a Time in New Mexico 02/10




O cair da noite repentino, apanhou de surpresa o jovem alto e de constituição física considerável que caminhava solitário a beira da estrada. Seus passos eram largos e firmes, demonstrando ter pressa em chegar a seu destino. Ele trajava apenas um coturno, encoberto por uma surrada calça jeans azulada e uma camiseta regata simples, que provavelmente era da cor branca, antes de ficar completamente impregnada com a poeira da rodovia que margeava o deserto. Carregava consigo apenas uma mochila preta nas costas e um pequeno crucifixo prateado em seu pescoço.

Estava arfante, sujo e suado. A impressão que se tinha, era que ele estava caminhando por horas e horas neste mesmo ritmo frenético. Mas por que alguém em sã consciência faria isso? Ainda mais em uma estrada deserta e escura? Ele parecia preocupado, mas mesmo assim contido. De tempos em tempos, virava-se para trás como se quisesse assegurar-se de que não estava sendo seguido.

Estranhamente tudo estava parado e quieto. Quieto demais. Nem mesmo os sons dos animais noturnos se faziam presentes naquela noite de lua gibosa. Ele continuou caminhando e permaneceu assim por cerca de mais vinte minutos, até que finalmente parou. Pareceu sentir algo de diferente no ar. Mas ignorou momentaneamente seus sentidos ao avistar a uns setecentos metros a sua frente um ponto luminoso na escuridão. Correu aproximando-se para constatar se o brilho do neon vermelho e laranja com a inscrição "El Rancho Barstow" não era apenas efeito de sua permanecia sob o calor intenso do sol. Então, apertou ainda mais seus passos atraído pela luz forte do letreiro, mantendo sempre a mesma discrição e a atenção a tudo a sua volta, como se pudesse perceber algo no mais profundo da noite que mais ninguém conseguiria notar e cuidadosamente procurava não chamar sua atenção.

Sem pensar duas vezes, o jovem empurrou as portas do "saloon" e entrou no estabelecimento sem olhar para trás. Instantaneamente sentiu o choque térmico do ar quente colidindo contra seu corpo castigado pelo frio do cair da noite no deserto. Rapidamende o cheiro de álcool e principalmente do tabaco, os quais ja sentia a uma certa distância, agora começavam a queimar em seus pulmões devido a intensidade e proximidade. O coro de vozes aplicadas nos mais distintos diálogos possíveis, vinham de todos os pontos do salão e embaralhavam seus pensamentos. Ele tentou cordenar a loucura que acometia seus sentidos a medida em que caminhava para uma mesa livre. O lugar era amplo e bem decorado, o bar estava movimentado. Uma banda parecia estar fazendo os últimos ajustes no som para começar sua apresentação. Cadeiras e mesas antigas estavam espalhadas pelo local. Tudo ali inclusive as luzes que iluminavam o recinto davam um ar retrogrado, rústico mais muito aconchegante.

Por trás do grande balcão de madeira, uma mulher corpulenta e de olhar desconfiado encarava o recém chegado, enquanto limpava uma enorme caneca de cerveja com um pedaço de pano. Percebendo a insegurança da senhora, ele cumprimentou-a com um ligeiro movimento de cabeça e sentou-se, colocando sua mochila sobre a mesa. Constancia passou então a observá-lo. Seu cabelo era castanho, curto e tinha um estilo parecido com o militar. Sua pele era morena clara e parecia estar um pouco mais queimada no rosto, ombros e braços pela intensidade do sol da tarde. Ele era alto, certamente possuía mais de um metro e oitenta e tinha um físico atlético não muito freqüente para rapazes da sua idade. Seus olhos castanhos claros tinham um ar sério e ao mesmo tempo preocupado. Deveria ter aproximadamente dezenove anos, mais pelo seu porte e expressão, passaria facilmente por mais de vinte e um. Pela sua experiência de mais de quarenta anos de bar, certamente era mais um latino-americano ilegal encrencado com a imigração, isso na melhor das hipóteses...

Imediatamente ela foi até a mesa, puxou uma cadeira em frente a ele e sentou-se.

Prólogo - Parte 01

Once Upon a Time in New Mexico 01/10




Fevereiro de 1999 - Shiprock, extremo noroeste do estado do Novo México. Havia sido um dia quente, mas o sol se despedia aos poucos em um intenso crepúsculo alaranjado. A poeira revoava livremente sobre a pista vazia da "Highway Near". Parecia não haver mais nada ao alcance dos olhos além das rochas e do infindável terreno árido, a não ser pelo pequeno “barstow” na beira da estrada que se perdia no horizonte.

Sua fachada rústica trazia a sensação aos visitantes de estar diante de um verdadeiro "Saloon" retirado de um filme de faroeste. O velho "Best Western El Rancho Bar" era o mesmo desde sua fundação há décadas. Uma pequena mão de tinta na fachada, algumas alterações na parte hidráulica, na fiação e um enorme letreiro com o nome do estabelecimento na beira da estrada, foram as únicas modificações relevantes feitas ali nos últimos 50 anos. O que não deixava o estabelecimento menos aconchegante por dentro, pelo contrário, embora sua mobília fosse antiga, ela permanecia intacta ao tempo, dando ao lugar um ar nostálgico singular. Isso somente foi possível graças ao imenso cuidado que a simpática senhora conhecida como Constancia, atual proprietária e neta herdeira do fundador do bar, tinha para com o “saloon”.

Descendente de mexicanos, ela era uma mulher na casa dos sessenta anos, de traços marcantes, que revelavam a primeira vista seu sangue latino. Seus cabelos já foram de um tom negro intenso, mas hoje aqueles que ainda lhe restam, são cobertos pelos fios predominantemente brancos,
seus olhos também eram escuros, grandes e serenos, seus braços e corpo eram fortes, típicos de quem já havia dado a luz. Era desconfiada, cautelosa e às vezes ríspida com estranhos, mais se tornava uma verdadeira mãe, para seus amigos e mais assíduos visitantes. Estava sempre alegre e disposta a conceder conselhos. Mulher vivida e experiente, Constancia não se deixava abater por qualquer coisa e não se permitia transparecer as outras pessoas, o imenso vazio que sentia, dia após dia naquele bar, sozinha na beira da estrada.

Ela jamais reclamou abertamente dessa situação, talvez porque o “El Rancho” tenha sido tudo que a vida permitiu com que ela ficasse. Seu marido, um ex-caminhoneiro e seu filho de apenas dezenove anos, haviam morrido a alguns anos atrás em um acidente automobilístico. Sim, ela sentia a falta deles, todos os dias, do fundo de seu coração, mais Constancia permanecia ali, talvez esperando pelo milagre de vê-los entrar mais uma vez pela porta de madeira rústica, como sempre havia sido durante os trinta e oito anos de casada, como foi da primeira vez em que se conheceram, ali mesmo, entre uma parada ou outra das entregas daquele que seria seu marido, o bom e velho Ruben.

Mas enganam-se os incautos que a julgam uma presa fáci, simplesmente por estar num lugar relativamente inóspito. A Sra. Cortez estava longe de ser uma mulher indefesa. A “colt” sob a caixa registradora e a espingarda na parede atrás do balcão eram apenas um aviso para aqueles que ainda não a conheciam. "Precaução nunca é pouca e acreditem, um pouco de pólvora nas nádegas de arruaceiros é um santo remédio", é o que ela sempre diz ao lustrar a bela espingarda de caça. Para os curiosos e engraçadinhos que a questionavam sobre
a utilidade da enorme arma na parede, ou sobre a sua habilidade no manejo da mesma, ela costuma responder com um sorriso largo no rosto: – Filho, esta é uma calibre 20, compacta, leve e de rápido manejo, é ideal para tiros a curta distância sobre alvos em deslocamento consideravelmente veloz, como as codornas, caminhoneiros sem vergonha e curiosos que acham que vão criar confusão no meu bar e sair ilesos. Mais se você é somente um amante da caça como eu e quer pegar algo menor a curta distância, eu aconselharia ao invés desta, uma calibre 36, como a que eu escondo debaixo do meu avental - Então com um irônico piscar de um olho só, ela dá as costas e sai gargalhando por dentro, deixando a grande maioria de seus ouvintes atônitos ou no minimo mais precavidos...

O dia ja estava no fim, e os últimos raios de luz desapareciam dando lugar as primeiras estrelas. Essa noite prometia ser mais movimentada do que os outros dias da semana. Como sempre, haviam alguns caminhoneiros descansando para prosseguir viagem, mais a maior parte dos clientes de hoje, viriam para um pequeno show que Constancia havia contratado. Tratava-se de uma pequena banda de heavy metal norueguesa chamada; Valhalla. Embora esse não fosse nem de longe seu estilo de música preferido, ela sabia de cor e salteado que esse era o tipo de “barulho” que atraia motoqueiros, jovens viajantes e potenciais consumidores de cerveja da região. Certamente essa ia ser uma noite daquelas.

Nem mesmo ela imaginava o quanto...

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